Carlos Drumond e a modernidade

Diário de Pindorama
Texto e vídeo de Marcus Ozores

Meus
amigos e amigas internautas atenção. Começou ontem, domingo dia 13, as comemorações da efeméride dos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Não vou discorrer sobre esses 100 anos pois já se escreveram livros, teses e monografias que nem se você viver 200 anos conseguirá ler tudo que foi publicado a respeito.
E o pior é que toda geração quer ser mais moderna que a anterior. Portanto, esse negócio de ser moderno parece que foi inventando pelos egípcios e na sequência vieram, os gregos, os romanos, otomanos, mongóis e uma lista imensa daqueles que também queriam ser modernos. E nos dias de hoje os chineses querem serem modernos e os russos então, nem se fale. Se ser moderno é ter bomba atômica o mais moderno é aquele ditador gordinho da Coréia do Norte, o Kim Jon Jun, sim aquele que quando era jovenzinho usou passaporte brasileiro para que ele e seu irmão irem se divertir no Disneylândia, de Tóquio. Como recordar é viver chacoalhem a cabeça e façam o favor de se lembrar do irmãozinho do Kim Jon Jun, o Kim Jon-nam que foi morto com injeção envenenada no saguão do aeroporto Kuala Lumpur, agarrado por duas jovens espiãs, a mando de Kim Jon Jun. É história moderna de Caim e Abel em Tik Tok;
E se não bastasse tanta tinta gasta para falar sobre modernismo paulista, o jornalista Ruy Castro, mineiro de Caratingua e carioca zona sul de coração, lançou há dois anos o livro “Metrópole a Beira Mar” para provocar os paulistas afirmando que a Semana de Arte é fruto de uma releitura do governo militar em 1972. No entanto, como a efeméride é comemorada essa semana, foi na semana passada que a PIG se deu conta do seus atraso e começou entrevistar Ruy Castro, que destilou divertidamente seus impropérios contra os jovens da Semana de 22. Agora, moi, aos meus 70, num tô nem ai, mas a moçada está gastando quilos de tinta e milhares de horas de vídeos em todos os formatos para rebater o Ruy Castro que deve estar se divertindo da histeria coletiva que criou.
Ruy, que é de Caratinga a mesma cidade de Ziraldo é um premiado escritor de biografia e faits divers como dizem os franceses e profundo conhecedor da MPB. Em Metrópole a beira Mar o jornalista de Caratinga usou e abusou do velho estilo jornalístico à la Paulo Francis para jogar bosta na Geni que dá prá qualquer um, como na letra de Geni e o Zepelim, música de Chico Buarque. E é bem capaz de faltar bosta nessa nova guerra de paulistas e cariocas no melhor estilo dos torneios Rio X São Paulo, quando o Campeonato Nacional nem sequer havia sido pensado.
Mas para apaziguar os ânimos entre cariocas e paulista o melhor mesmo é chamar como juiz de campo o poeta Carlos Drummond de Andrade que tinha 20 anos, quando ocorreu a Semana Moderna, promovida pela então juventude dourada paulistana. Não se esqueçam que Drummond foi o mais moderno entre os modernos, mas um belo dia se cansou de ser moderno e preferiu ser Eterno.

ETERNO
E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.
(Le silence éternel de ces espaces infinis m’effraie.)
— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.
Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eternissíssimo
A cada instante se criam novas categorias do eterno.
Eterna é a flor que se fana
se soube florir.
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero.
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas.
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e
[nenhuma força o resgata.
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la.
é o que se pensa em nós se estamos loucos.
é tudo que passou, porque passou.
é tudo que não passa, pois não houve.
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
[passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um
[mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
[afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.
Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma
[essência
ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde
[pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como
[uma esponja no caos.
e entre oceanos de nada / gere um ritmo
Carlos Drumond de Andrade
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